História da Polícia Militar do Pará

sábado, 12 de abril de 2014

Polícia e Patrimônio: o dia em que a PM prendeu Inri Cristo em Belém

A Polícia Militar do Pará com quase 200 anos de existência teve participações históricas em muitos eventos críticos entre os quais a prisão em Belém de Inri Cristo, em 1982.

Imagem 01: Jáder Barbalho com alunos do DCE
Era ainda a época denominada de Ditadura Militar, momento em que a abertura "lenta e gradual" não tinha mais como ser impedida e quando a tropa ainda era conduzida no caminhão "tomara-que-chova". 

Esse era o tempo da contestação e de enfrentar o sistema, pois dentro de mais dois anos a escolha de um presidente civil estaria certa no colégio eleitoral.

Era fevereiro de 1982 e as forças de esquerda se agrupavam em torno de Jáder Barbalho para o governo do Estado, produto de uma ampla aliança entre o MDB (PMDB), forças políticas que vieram a compor o PT, PCB e as alas dissidentes da Arena (PDS) como era o caso do então governador Alacid Nunes que rompia com Jarbas Passarinho e deixara de apoiar Oziel Carneiro para o governo do Estado.
Imagem 02: Inri Cristo em cima do tomara-que-chova

Os tempos eram outros e a ordem instituída desmanchava-se, e a PM daquela época estava espraiando-se em um novo modelo de policiamento - a instalação de cabines de fibra - denominado de PM-Box.

Era domingo, 28/02/1982, último dia daquele mês, muitas pessoas católicas compareceram à Igreja da Sé, quando por volta das 08h00 da manhã uma multidão entrou na Igreja, liderados por Inri Cristo e puseram o vigário pra correr. Imaginem uma coisa dessas! (A democracia não era para tanto).

Imagem 3: PM retirando as pessoas da Igreja da Sé
Um domingo normal se não fosse esse episódio que, com certeza, colocou Belém em destaque nacional e internacional, pois as estruturas eclesiásticas estavam agora abaladas. Quem diria, Belém do Círio de Nazaré! Às voltas, agora, com Inri Cristo quebrando imagens e expulsando vendilhões do templo como há quase dois mil anos atrás.

Como questões sociais eram problemas de polícia, o religioso seguiu o mesmo caminho e a PM foi chamada. Há que se recordar o leitor que não tínhamos celular, twiter, uatizapis e outras parnafenálias de hoje em dia. Então, quem queria crer tinha que ver, ou correr às bancas no dia seguinte para ver tudo estampado no O Liberal ou no A Província do Pará.
Imagem 4: Inri Cristo no "tomara-que-chova"

A PM comandada pelo Tenente Watrin fez a prisão de Inri Cristo e o conduziu para "nos rigores da lei" responder pelos seus atos. 

Com certeza essa operação não foi fácil e, também, ao que parece Inri não foi algemado e ainda pode utilizar da plataforma do caminhão "tomara-que-chova" para ir abençoando as pessoas por onde passava. 

A dificuldade devia ser tanta que somente por volta das 20h00 que Inri Cristo deu entrada preso no Presídio São José, atual Polo Joalheiro "São José Liberto". Também, não existia computador e a máquina de escrever, em geral manual, reinava absoluta na burocracia da polícia judiciária. Ctrl+C e Ctrl+V nem pensar! Era tudo à base de papel carbono para as cópias e, bastava errar o cabeçalho pra começar tudo de novo (reiniciar e resetar naquela época era reescrever tudo novamente). Que era "safo", sempre digitava um "digo, digo, digo" ou ainda no final: "onde se lê ..., leia-se".
 
O portal da SOUST, Sagrada Ordem Universal da Santíssima Trindade, organizada por Inri Cristo e sediada em Brasília-DF credencia esse episódio como "Ato Libertário de 1982", com uma cobertura completa do episódio e rica em imagens - vale a pena conferir.

Analisando as imagens, percebe-se que o caminhão "tomara-que-chora" era do 2º BPM como se pode notar na pintura na porta do veículo. Nem todos os PM's utilizavam cadarço de identificação e havia uma diferenciação entre os PM's que utilizavam boinas e os que utilizavam gorro de pala (chamado caixa de sapato pelo formato quadrado). Alguns utilizavam braçadeiras no braço direito e não havia nos uniformes a camisa de dentro (suadeira), brasão da PM e miniatura da bandeira do Pará nas mangas das camisas.

Possivelmente a braçadeira tinha como símbolo o "Cérbero" (cão mitológico de três cabeças que guadava a porta do inferno), pois não existia ainda o Btl de Choque, criado somente na década de 1990. 

Crédito das Imagens:
Imagem 01: Arquivo pessoal da Professora Edilza Joana Fontes, disponível em: http://professoraedilzafontes.blogspot.com.br/2010/12/os-anos-80.html
Imagens 02, 03 e 04: SOUST


5 comentários:

  1. Muito bom Charlet. Um espaço para conhecermos um pouco mais sobre nossas origens e feitos ao longo de quase duas décadas. Parabéns! Lopes.

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  2. Só não acho que o autor da prisão não poderia ser TEN WATRIN pois nessa época ele já era Major, tenho certeza pois era Sub Cmt do meu pai no 1 BPM

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    1. Verdade, vc está correto. Mas, copiei do blog do Inri Cristo com tal incorreção. Contudo, lhe assevero que o Watrin estava de serviço como superior de dia e quem estava no policiamento eram os tenentes NILO SÉRGIO, largando serviço e o RUFFEIL, entrando de serviço. Um grande abraço e obrigado.

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  3. Olha ao iniciar a leitura não quis mais parar até o final. Muito bom. Parabéns meu amigo.

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