História da Polícia Militar do Pará

quarta-feira, 9 de março de 2011

Mulher, de símbolo de beleza e pureza à concorrente no mercado de trabalho e vítima de agressões e violências

A história da humanidade tem emprestado vários significados ao ser mulher, conforme a conjuntura e a estrutura social e econômica permitiram. As representações das mulheres das cavernas sendo puxadas pelos cabelos não parece tão distante e, ainda hoje, se usam tacapes, bofetadas, tiros e facadas como expressões de um amor incontrolável. Que amor é esse?
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Desde a mais tenra idade a mulher aprende ou lhe ensinam a ocupar o seu lugar e respeitar o lugar do sexo oposto, assim como também lhe são incultidos estereótipos ligados à beleza, pureza, doçura, fragilidade entre outros culturalmente ditos como do mundo feminino e expressões da feminilidade.
Aliado a tudo isso, estavam presentes também a divisão social do trabalho e o mundo da mulher ligado aos valores de uma vida doméstica voltada à procriação, ao serviço do lar, educação dos filhos, culinária e servir aos desejos sexuais do marido (macho dominante).
O trabalho separava coletores e caçadores dos agricultores, mas também dentro de cada grupo diferenciava papéis dos machos e das fêmeas, via de regra com a imposição da vontade daqueles sobre estas.
O mundo ocidental e, principalmente cristão, consagrou a imagem da pureza, virgindade e obediência à luz da representação máxima dessas representações: Maria, a mãe de Jesus. Obediente até o final e por total devoção e entrega viveu em função de sua missão, de seu filho.
Na mitologia ocidental não faltam imagens representativas das qualidades femininas, na sua grande maioria exaltadoras da beleza, pureza e encanto feminino: Atenas, Hera, Afrodite, Vênus, as Amazonas e, mesmo para simbolizar a maldade, a figura feminina também pode ser utilizada: Medusa, Valquírias, Sereias entre outras.
A velha ordem ocidental manteve e difundiu durante toda a Idade Média a imagem secundária da mulher. Tal visão só se rompia quando do aparecimento de mulheres do porte de Joana D'arck que se recusavam a se verem subjugadas ao "universo feminino" e rompiam as barreiras sexuais para, demonstrar e vivenciar, uma outra estrutura e um outro olhar sobre o mundo, plenamente possível, mesmo que sofressem perseguições e com o risco da morte pela blasfêmia de transporem a barreira entre os dois sexos.
À mulher caberia educar-se e casar-se, ou ainda, caso não seguisse tal caminho restavam outros dois: o Convento ou o Prostíbulo. Evidentemente que, este último somente para as filhas dos outros. Daí, esconde-se o universo dos consumidores do sexo fácil e esconde-se a incapacidade de muitos desses homens em tentarem a conquista sexual. Mais fácil é pagar por esse serviço e não se perder tempo com mais delongas.
Não nos parece que atualmente seja diferente.
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No contexto do desenvolvimento das cadeias produtivos ao se desenvolver tal mercado, o cafetão como capitalista, na maioria das vezes absorve o excedente produtivo de uma noite de muito trabalho e, ainda, distribui os rigores disciplinares a cada uma das suas funcionárias. A esse respeito interessante é o filme nacional "Iracema: uma transa amazônica", de Orlando Sena e Jorge Bodansky (1974) que mostra muito bem a exploração da sexualidade feminina na Amazônia do "integrar para não entregar", do Brasil "ame-o ou deixe-o".
À propósito, interessante também para o estudiosos do desenvolvimento, da segurança pública e do Círio de Nazaré, pois inicia com a procissão do Círio e uma entrevista com o Comandante Geral da PMPA, Coronel EB Douglas Farias de Souza.
Interessante também nesse filme é o longo percurso para ser exibido, pois o lançamento deveria ser em 1974, mas devido a censura do regime militar, somente foi exibido em 1981, contudo o debate sobre o desmatamento, o desenvolvimento não sustentável e a violência na Amazônia não tinham sido equacionados.
Enquanto a mulher estava no seu habitat, ou melhor no ambiente "normal": casa, convento ou prostíbulo as relações de trabalho não encontravam no mundo feminino potenciais de uso da mão de obra, mas com a Revolução Industrial a mão de obra masculina adulta foi insuficiente, necessitando doravante do uso da mão de obra faminina e infantil, embora não absorva a totalidade da mão de obra ofertada, justamente pela necessidade de manutenção do exército de reserva de mão de obra.
A partir de então a dupla jornada de trabalho foi implantada e doravante enxergada pelas mulheres que se lançaram no atendimento das demandas do mercado de trabalho, principalmente por não encontrarem opções para disporem de sua força de trabalho, inclusive "costurar para fora", durante muito tempo foi expressão marcante das prostitutas e, mulheres que ficavam de cada em casa, prestando quaisquer serviços eram logo tidas como "mulheres de má fama".
As mulheres mal trapilhas, descuidadas e descabeladas, junto com sua prole também esfarrapada estavam presentes na indústria têxtil, mineração, agricultura, metalurgia, cerâmica entre outras atividades, tudo isso em busca da sobrevivência e pelo equilíbrio das contas do casal e, mesmo assim, a industrialização foi marcada pela violência doméstica, onde o cônjuge amargurado pela incapacidade monetária guardava alguns trocados para embriagar-se e encontrava na mulher a causa de seus males, principalmente porque era ela que lhe apresentava as demandas relativas à falta de alimentos, à saúde dos filhos dentre outras.
Trabalho fabril e prostituição acabam por se ligarem pelo fato de que tais mulheres estavam expostas a uma série de violências e, a operária tinha que andar numa rígida conduta disciplinar para não ser confundida com a prostituta, principalmente se não fosse casada ou tivesse a "honra manchada" pela perda da virgindade ou gravidez.
O filme e o poema "Os miseráveis" são emblemáticos ao apresentar o drama de uma operária que ao descobrirem que mantinha uma filha em segredo, se torna nociva ao conjunto de moças e senhoras operárias, sendo despedida do emprego e, com aluguéis a pagar se vê obrigada a servir sexualmente ao locador do imóvel.
As atividades de luta e as conquistas femininas no mercado de trabalho vieram colocar barreiras e rivalidades entre elas e os homens no exercício profissional, para as mais ortodoxas, era necessário ocupar todos os espaços com as mesmas condições e os mesmos direitos, para outras, menos radicais: era necessário reconhecer a necessidade de se disputar os espaços, mas reconhecer as diferenças existentes.
O diferencial acabou sendo o salário menor para as mulheres ou, ainda, o acesso limitado a determinadas áreas profissionais. No caso dos policiais militares e, em especial na PM do Pará, o ingresso das mulheres somente se deu em 1982, ou seja, há 29 anos com pouquíssimas vantagens segundo as mais antigas dessa turma, pois para as mulheres nada foi preparado e tinham que se conformar com a inexistência de espaços diferenciados, principalmente banheiros e alojamentos que, aos poucos foram sendo providenciados.
A Companhia de Polícia Feminina pode assim atender às demandas das mulheres, mas colocou-as, também, à margem, fora do contato com o efetivo masculino, muito embora a disciplina e a hierarquia das mulheres estivessem no mesmo nível, pois cabiam a elas próprias o controle disciplinar das subordinadas.
Atualmente, pode se vislumbrar inclusive uma mulher como Presidente da República, assim como tivemos um Governadora Estadual, além de ter na Magistratura Paraense a figura da Presidente do Tribunal de Justiça Estadual.
Parece que não há mais limites a serem transpostos, mas a violência contra a mulher no âmbito familiar continua e os registros e autuações pós Lei Maria da Penha tem crescido e dado mostras de que é necessário uma verdadeira campanha nacional para erradicar as agressões e violências contra as mulheres.



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